O Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo?

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O Brasil ocupa um lugar de protagonismo internacional na produção de alimentos e é considerado uma das maiores potências do setor agropecuário. O país é líder mundial na exportação de importantes alimentos como a soja, o café e a cana-de-açúcar, insumos extremamente importantes para o consumo tanto no mercado interno quanto externo.

No entanto, o tema do uso de agrotóxicos no país é comumente trazido pelos críticos ao setor agrícola, que se utilizam de dados absolutos para afirmar que o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, sem colocar em perspectiva o que os números realmente querem dizer.

A informação amplamente divulgada do Brasil ser o país que mais utiliza agrotóxicos só pode ser considerada correta se levada em conta apenas a quantidade absoluta de agrotóxicos utilizada, sem analisar alguns fatores que são extremamente importantes, como a área agrícola, o volume de produção e o clima. Continue acompanhando para entender algumas razões que levam o Brasil a ser um grande consumidor de defensivos agrícolas.

Área destinada à agricultura

O Brasil é um dos maiores produtores e exportadores agrícolas do mundo e conta com 65 milhões de hectares destinados à agricultura. Considerando o total de área plantada, o volume de defensivos agrícolas utilizados no país é menor do que o de muitas nações desenvolvidas, como França, Japão e Estados Unidos. Nesses países, são utilizados um volume maior de agrotóxico por área plantada.

Volume produzido

Ao compararmos o volume de agrotóxico utilizado em nosso país com o volume de produtos agrícolas gerado, também vamos chegar a conclusão de que estamos longe do topo do ranking. Na verdade, a agricultura brasileira é uma das mais eficientes do mundo.

Condições climáticas

Outro fator que leva ao uso intenso de agrotóxicos no Brasil está ligado às condições climáticas: o clima quente e úmido torna o país mais suscetível à infestação de doenças, pragas e plantas daninhas, mas por outro lado, possibilita a produção de até 2,5 safras por ano.

O inverno rigoroso com neve, além de impedir a plantação durante grande parte do ano nos países frios, como o Canadá, Estados Unidos e no norte da Europa, age como um controle natural das pragas, fazendo com que seja necessária uma menor quantidade de agrotóxicos nesses locais.

Esses são alguns dos motivos que justificam o grande volume de defensivos agrícolas no país. Vale lembrar que o agrotóxico é utilizado para proteger as plantações de pragas, doenças e de plantas invasoras, que competem por luz e nutrientes. Sem esses produtos, uma área maior deveria ser destinada à agricultura, já que eles evitam que as perdas no campo sejam maiores. Reforçamos que os agrotóxicos devem ser usados quando recomendado por um agrônomo e seguindo as boas práticas agrícolas, que são fundamentais para preservar a segurança do meio ambiente, do agricultor e do consumidor.


Mas é verdade que o brasileiro ingere 5 litros de agrotóxico por ano?

Talvez você já tenha visto esse dado por aí, mas ele não é verdadeiro. Esse número refere-se ao resultado da divisão da quantidade de agrotóxicos utilizados no país pelo número de habitantes, mas existem outros fatores que precisam ser levados em consideração. Abaixo, você confere os motivos que comprovam que essa conta não é verdadeira:

Nem tudo é alimento

O agrotóxico é aplicado em toda a extensão da planta e, em muitos casos, apenas parte dela serve de alimento para os humanos. Como exemplo, podemos citar o feijão, pois não nos alimentamos das folhas e nem do caule, somente dos grãos. 

Cultivos não comestíveis

Além disso, boa parte dos agrotóxicos são utilizados em plantações que não são comestíveis, como é o caso do algodão, que é utilizado para a fabricação de tecidos, e da cana-de-açúcar, essencial para a produção do etanol. 

Diluição do produto

Para utilizar um defensivo, o agricultor precisa realizar a diluição do produto seguindo as especificações da bula. Após a aplicação na lavoura, a maior parte dos ingredientes ativos se degrada com o tempo.

É por isso que todo defensivo possui um prazo de carência, que é o tempo entre a sua última aplicação até o momento da colheita. Esse período está especificado na bula e deve ser respeitado para que o resíduo no alimento esteja dentro do permitido pela regulamentação.

Vale lembrar que o Brasil é um dos maiores exportadores de soja, algodão e milho, e o cálculo de 5 litros de agrotóxico por brasileiro não leva em consideração toda a produção que é exportada, e nem as demais variáveis que abordamos no texto.

Mas se mesmo assim você tem dúvidas sobre a segurança dos agrotóxicos para a saúde…

Liberação intensa de agrotóxicos no Brasil e proibição no exterior

A liberação de agrotóxicos é uma questão que também cabe nessa discussão, principalmente por conta da velocidade com que os produtos têm sido liberados no Brasil. Ao contrário do que muitos acreditam, ter novos defensivos agrícolas no mercado não acarreta no uso mais intenso dos produtos.

Para facilitar o entendimento, vale a analogia: ter mais opções de medicamentos para dor de cabeça no mercado não significa que você vai tomar mais remédios. São apenas mais opções, mas você vai escolher um que seja o melhor para o seu caso. É assim que funciona também no caso dos defensivos agrícolas.

Os insumos, como os agrotóxicos, são um dos maiores custos para o agricultor, ou seja, é do interesse financeiro do produtor reduzir o uso desse tipo de tecnologia, utilizando apenas o necessário para ter a lavoura protegida das pragas e doenças.

A quantidade de produtos liberados pode causar incômodo em um primeiro momento, mas é preciso entender que boa parte deles não são novos, e sim genéricos, ou seja, variações de produtos já existentes no mercado. No caso dos produtos novos, o objetivo é justamente aprovar moléculas menos tóxicas e ambientalmente corretas, para substituir os produtos mais antigos. Vale dizer que a lei não permite o registro de produtos com toxicidade maior do que os já existentes no mercado.

Outro tópico levantado pelos críticos é que alguns agrotóxicos liberados no Brasil são proibidos no exterior. Na verdade, não ter um produto registrado em um país não significa necessariamente que ele seja proibido. O registro ou não de um produto depende das pragas e doenças presentes em cada território e das culturas que lá são cultivadas.

Um país que não produz soja, por exemplo, não tem necessidade de registrar um agrotóxico para controle de pragas dessa cultura. Ainda assim, a maioria dos agroquímicos utilizados no Brasil também são empregados na Europa, nos Estados Unidos e na China. 

Regulamentação rigorosa

É importante ter em mente que a regulamentação brasileira de agrotóxicos é uma das mais rigorosas em todo o mundo. Antes que um produto seja registrado e autorizado para venda, ele deve passar pela análise da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) e do Ministério da Agricultura (Mapa), que validam a eficácia e a segurança do defensivo para a lavoura, para o meio ambiente e para a saúde do aplicador e do consumidor.

Caso algum risco seja detectado, os três órgãos citados acima são os responsáveis por estabelecer medidas para gerenciamento e mitigação do risco, o que pode incluir a proibição do uso do produto no país.

Confira mais mitos e verdades sobre agrotóxicos e transgênicos no nosso blog.