Resíduos de agrotóxicos nos alimentos: estamos sendo envenenados?

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Se você se preocupa com o que come, certamente já se questionou sobre os riscos de resíduos de agrotóxicos nos alimentos. Talvez você já tenha visto notícias afirmando que estamos sendo envenenados por agrotóxicos, que o Brasil é o maior consumidor de pesticidas do mundo ou ainda que os brasileiros consomem 5 litros de agrotóxicos por ano. Essas informações assustam e no fim do dia ninguém sabe o que é seguro comer. Nossa saúde é coisa séria e, por isso, é importante entender mais sobre a segurança dos alimentos.

Para começar nossa conversa: já parou para pensar que os agrotóxicos podem proteger ao invés de prejudicar a sua saúde? Isso porque eles servem para proteger as plantas da ação de doenças e pragas, como por exemplo os fungos da espécie Aspergillus flavus que produzem aflatoxina, uma toxina capaz de causar intoxicações severas para seres humanos e animais. Essas toxinas são produzidas por fungos e bactérias naturalmente presentes em frutas, cereais e legumes.

Mas isso não quer dizer que os defensivos agrícolas não sejam perigosos. Como o próprio nome já diz, os agrotóxicos são substâncias tóxicas, assim como tantas outras com as quais nós lidamos em nosso dia a dia, como produtos de limpeza e até mesmo medicamentos. É por isso que eles precisam ser utilizados conforme as recomendações do fabricante para entregar o resultado esperado e garantir a segurança das pessoas.

Dessa forma, no desenvolvimento de agrotóxicos, os cientistas têm o desafio de encontrar uma formulação e uma dose de ingredientes ativos que sejam eficientes para a lavoura e que, ao mesmo tempo, não coloquem em risco a saúde da população ou o meio ambiente. Vamos explicar melhor: antes de serem registrados para uso e vendidos no mercado, os agrotóxicos são exaustivamente estudados e passam por um rigoroso processo de avaliação.

E essa autorização é concedida a partir das recomendações de uso – que são justamente as orientações descritas na bula para que a segurança do aplicador, do meio ambiente e dos alimentos produzidos sejam preservadas. Isso porque, como parte dos estudos, se estabelece os limites máximos de resíduos (LMR) aceitáveis para cada alimento para que não haja risco para a saúde de quem vai consumi-lo. E para se chegar a essa quantidade, uma série de informações são levadas em consideração, como por exemplo a toxicidade do produto utilizado e a média de consumo daquele alimento (e de outros alimentos que podem vir a ser tratados pelo mesmo produto) na dieta da população brasileira. Assim, mesmo que haja resíduo de agrotóxico, ele não causará danos ao consumidor.

Portanto, dizer que um alimento tem resíduo de agrotóxico não é um problema por si só. É preciso avaliar se isso representa um risco real ao ser humano. Até porque os métodos de detecção de resíduos são cada vez mais sofisticados, capazes de identificar quantidades realmente muito baixas. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) conta com o Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA) para avaliar os níveis de resíduos de agrotóxicos nos alimentos de origem vegetal.

PARA: avaliação de resíduos de agrotóxicos nos alimentos

O PARA foi criado pelo Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS) em 2011 e é coordenado pela Anvisa em conjunto com órgãos estaduais e municipais de vigilância sanitária e laboratórios estaduais de saúde pública.

Os relatórios que apresentam os resultados do PARA auxiliam a Anvisa a fornecer subsídios para a implementação de ações regulatórias, de fiscalização e educativas. Além disso, também permitem aprimorar a avaliação da exposição aos resíduos de agrotóxicos nos alimentos e contribuem para verificar a necessidade de restrições nos critérios de uso e comercialização de alguns defensivos agrícolas.

É importante ressaltar que as análises do PARA são realizadas em amostras de alimentos que não passam por nenhum tipo de higienização ou processamento. Incluem até mesmo as cascas e outras partes não comestíveis e, portanto, referem-se aos cenários de exposição mais críticos possíveis. Desde a criação do programa até 2018, já foram analisadas mais de 35 mil amostras referentes a 28 tipos de alimentos de origem vegetal.

Conheça os parâmetros utilizados para essa avaliação, que são os mesmos utilizados para garantir a segurança dos alimentos processados, como por exemplo para estimar a quantidade máxima de corante que podemos adicionar na bala de goma ou sucos:

Ingestão diária aceitável (IDA)

A IDA é um parâmetro de segurança definido como a quantidade máxima de agrotóxico que podemos ingerir por dia, durante toda a vida, sem que a nossa saúde seja prejudicada. A quantidade máxima de ingestão permitida é calculada para cada agrotóxico.

Limite Máximo de Resíduos (LMR)

O Limite Máximo de Resíduos (LMR), como falamos acima, é a quantidade máxima de resíduos de agrotóxicos oficialmente permitida no alimento, em decorrência da aplicação em uma cultura agrícola.

Dose de Referência Aguda (DRfA)

A DRfA trata-se da quantidade estimada do resíduo de agrotóxico presente nos alimentos que pode ser ingerida durante um período de 24 horas sem prejudicar a saúde. Vamos considerar o tomate como exemplo: supondo que eles tenham sido tratados com o mesmo inseticida, considerando os valores de IDA e LMR para esse inseticida em questão, uma pessoa poderia consumir cerca de 9.840 tomates em 24 horas e, ainda assim, ela estaria segura.

Lembrando que esse cálculo considera que o alimento será consumido sem lavagem, cru e na sua forma integral, ou seja, com casca, talo e folha. Mas, normalmente, nós lavamos, descascamos e até cozinhamos os alimentos antes do consumo, processos que reduzem drasticamente os resíduos do agrotóxico.

Os alimentos não orgânicos são seguros?

É bastante comum, a partir da avaliação do PARA, serem divulgadas notícias informando que há alimentos – e aí os morangos e pimentões são tidos como vilões - que estão “contaminados” por agrotóxicos. Mas aqui vamos explicar o que isso significa e se há riscos de fato.

Basicamente, há dois motivos pelo qual os alimentos podem estar fora de conformidade: ter produtos que não são registrados sendo usados para um determinado alimento ou ter os limites de segurança acima do permitido.

Na mais recente edição do PARA, realizada entre 2017 e 2018, foram coletadas 4.616 amostras de alimentos em 77 municípios, o que representa mais de 30% da alimentação vegetal da população brasileira. De acordo com o estudo, em 49% das amostras não foram encontrados quaisquer resíduos de agrotóxicos, enquanto 0,89% demonstraram potencial para risco agudo (que considera o consumo de uma grande quantidade do alimento em 24 horas) e 0% para risco crônico (que considera a média de consumo da população).

Certamente você deve estar se perguntando: mas vai me fazer mal se eu comer esses alimentos da amostra de 0,89%? Em teoria até pode fazer, mas a pessoa teria que comer uma quantidade muito significativa desse alimento em um único dia e ainda sem lavar, sem retirar a casca... Resumindo: é muito improvável que haja qualquer comprometimento da saúde por conta de resíduo de agrotóxico nos alimentos. Neste material, disponível no site da Anvisa, você consegue entender o trabalho realizado com o PARA e esclarecer eventuais dúvidas adicionais.

Como diminuir os resíduos de agrotóxicos nos alimentos?

A preocupação com os resíduos de agrotóxicos existe e tem crescido juntamente com as exigências da sociedade em relação a esse tema. Os agricultores e toda a cadeia estão dedicados a responder a essa preocupação. Nós, da Syngenta, assumimos o compromisso de buscar os mais baixos resíduos nos cultivos e no meio ambiente e, por isso, vamos investir 2 bilhões de dólares, até 2025, em inovações para a agricultura sustentável.

Para aprofundar a conversa sobre resíduos, é importante saber que os agrotóxicos podem possuir dois modos de ação distintos: sistêmico e de contato. Os produtos sistêmicos são aplicados e percorrem toda a planta, estando presentes no caule, folhas e frutos. Já os agrotóxicos de contato agem, principalmente, nas partes externas do vegetal. Isso significa que não há um método que garanta a retirada de resíduos de agrotóxicos dos alimentos.

Mas lembre-se que, como já falamos no início do texto, isso não é um problema. Os agrotóxicos foram testados por anos antes de serem liberados para uso e os eventuais resíduos foram considerados nesses estudos. Por isso, é imprescindível que os agrotóxicos sejam utilizados de acordo com as orientações do rótulo e da bula. No entanto, a higienização dos alimentos não deixa de ser uma prática obrigatória (mesmo no caso dos alimentos orgânicos) e que pode ajudar a diminuir os resíduos de agrotóxicos e as quantidades de bactérias e vermes.

Diferentemente do que podemos encontrar em algumas postagens na internet, o melhor jeito de higienizar os alimentos para remover resíduos de agrotóxico é lavá-los em água corrente. Se preferir, use uma esponja. Há estudos que indicam que o bicarbonato, cloro ou o vinagre podem remover os resíduos de agrotóxicos, mas para isso você precisaria conhecer o pH dos produtos usados naquele cultivo e outros dados físico-químicos. Ainda assim, essa ação apenas reduziria o resíduo da superfície do alimento.

A rastreabilidade dos alimentos traz segurança ao consumidor

O crescente interesse do consumidor em entender mais sobre o alimento que está consumindo fez aumentar a importância da rastreabilidade, um conjunto de procedimentos que permite detectar a origem e acompanhar a movimentação de um produto ao longo da cadeia produtiva, verificando se ele seguiu as orientações da bula e as normas previstas por órgãos competentes, como o Ministério da Agricultura (Mapa) e a Anvisa.

Já está em vigor uma Instrução Normativa (INC 02/2018) para viabilizar a rastreabilidade da cadeia produtiva de vegetais. Para isso, os agricultores, além de fazerem seus registros diários e detalhados sobre o manejo, devem buscar um processo de identificar as caixas ou embalagens corretamente.

Dessa forma, o processo permite identificar quem produziu, o que foi produzido, quando, como e para quem foi vendido. E a fiscalização é de responsabilidade da Anvisa e do Ministério da Agricultura. O que é muito positivo para o consumidor, que se sente mais seguro ao optar por alimentos rotulados e ter informações sobre qualidade e procedimentos utilizados na produção, tendo maior poder de escolha na hora da compra.

Vale registrar aqui que a Syngenta investe continuamente no desenvolvimento de tecnologias agrícolas cada vez mais seguras e eficazes e na divulgação de informações corretas tanto para os produtores quanto para os consumidores.E se você ainda tem dúvidas sobre como escolher os alimentos e cuidar da sua saúde, leia o texto que preparamos sobre o assunto.