Agricultura Regenerativa: quem tem a ganhar com isso?

Sustentabilidade
agricultura regenerativa

Se engana quem pensa que o agro ainda precisa começar a mudar –a mudança já começou. Claramente ainda existe muito a ser feito, a transformação no nosso setor precisa continuar, pois os problemas que enfrentamos são emergenciais e a agricultura regenerativa pode ajudar a mitigá-los.

Não é à toa que o segundo objetivo da Agenda 2030 da ONU é "Fome Zero e Agricultura Sustentável". Em 2019, um estudo da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) mostrou que o avanço da insegurança alimentar no mundo fez com que o número de pessoas afetadas pela fome chegasse a quase 690 milhões, aproximadamente 8,9% da população mundial – isso, antes da pandemia.

Em um novo relatório da ONU, que avaliou o Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo, divulgado em julho do ano passado (2022), o número de pessoas afetadas pela fome no mundo subiu para 828 milhões em 2021, totalizando cerca de 9,8% da população mundial.

Os impactos causados pela pandemia e por questões geopolíticas foram somados aos efeitos da crise climática. Tudo isso agravou os desafios da agricultura, tanto na produtividade quanto na disponibilidade de insumos agrícolas, além dos custos de produção.

No entanto, como já exemplificamos em outros conteúdos, as atividades que alimentam o mundo também são as que podem regenerá-lo – e a Agricultura Regenerativa é a prova disso. Ao adotar manejos e práticas sustentáveis no campo, são desencadeados benefícios para:

  • a produtividade da lavoura;
  • a rentabilidade do produtor;
  • a preservação da natureza;
  • a redução da emissão de gases de efeito estufa (GEE);
  • o combate mundial à fome por meio do aumento da produção e da acessibilidade a alimentos.

Apesar das vantagens econômicas serem comumente a questão mais atrativa da agricultura regenerativa para os agricultores, precisamos mais do que nunca entender que esse caminho é fundamental para que seja possível proteger a segurança alimentar das futuras gerações. Ou seja, investir na sustentabilidade agrícola é dar vida longa ao agro. 

O que é e qual a importância da Agricultura Regenerativa? 

A agricultura regenerativa – também conhecida como agricultura positiva – tem como base a sustentabilidade. Se buscarmos na raiz o significado de “sustentável“, encontraremos uma definição simples e fácil de entender. 

Derivado do latim sustentare, o adjetivo significa algo “que pode ser mantido por longo tempo" ou “que pode ser perpetuado". Partindo desse ponto de vista, podemos concluir que "Agricultura Sustentável" é uma agricultura que se sustenta a longo prazo, certo? 

Mas, sendo a agricultura uma das atividades mais antigas da história da humanidade – e essencial para a nossa sobrevivência – não podemos considerar que ela já é naturalmente perpétua? 

A agricultura depende diretamente de recursos naturais que, se fossem eternos, fariam com que a resposta para essa questão fosse positiva. Mas até mesmo os recursos naturais renováveis precisam de um tempo para se recuperarem, o que não tem acontecido nos últimos anos de crise climática, humanitária e ambiental. 

Diante desse cenário, o termo "sustentabilidade" se tornou popular nos últimos anos, fazendo com que diversas empresas e segmentos incluíssem políticas e práticas sustentáveis em seus planos de desenvolvimento. Mas é preciso ir além do uso de uma palavra chamativa e de um discurso amigável ao meio ambiente. É  preciso realmente entender o conceito e fazer com que ele aconteça na prática.

Considerando o papel do agro na visão da sociedade, por exemplo, a sustentabilidade na agricultura pode ser facilmente entendida como o cultivo de alimentos orgânicos ou com medidas como a captação da água das chuvas para irrigação. Essas práticas podem sim ser  sustentáveis, no entanto, com tecnologia em larga escala e conhecimento técnico baseado na evolução das pesquisas científicas, a agricultura regenerativa já está muito além.

agricultura regenerativa

De um modo geral, a sustentabilidade agrícola é instaurada quando as etapas envolvidas na produção de alimentos respeitam a natureza, reduzem os impactos negativos, promovem o equilíbrio agroecológico e restauram os ecossistemas. Além disso, para ser válida de verdade, essa conduta precisa percorrer toda a cadeia produtiva, priorizando a segurança alimentar dos consumidores, a qualidade de vida e a saúde dos colaboradores.

Em 1987, a ONU sintetizou e divulgou o conceito de desenvolvimento sustentável: 

"Desenvolvimento sustentável é aquele que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades."

Na visão do National Research Council (NRC), a sustentabilidade agrícola não deve perseguir práticas em si, mas sim objetivos finais, como:

  • proteger os recursos naturais;
  • aumentar a produtividade dos sistemas agrícolas de acordo com a demanda do crescimento populacional e do desenvolvimento econômico;
  • produzir alimentos sadios, integrais e nutritivos que permitam o bem-estar humano;
  • garantir uma renda líquida suficiente para que os agricultores tenham um nível de vida aceitável e possam investir no aumento da produtividade e na conservação do solo, da água e de outros recursos naturais;
  • corresponder às normas e expectativas da comunidade.

A Agricultura Regenerativa na prática 

Podemos considerar que a evolução da agricultura sustentável  vem se difundindo nos últimos 40 anos, juntamente com a digitalização do campo. De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), em um estudo divulgado na safra 2019/20, a produtividade agrícola brasileira cresceu quase 400% nesse período.

Apesar do aumento significativo do potencial produtivo, a análise mostrou que a área ocupada pela agricultura cresceu somente 33% nesses mesmos 40 anos. Isso mostra que o crescimento da produtividade não depende somente do tamanho da propriedade, mas principalmente da adoção de tecnologias para um manejo sustentável e rentável  que faça com que a lavoura alcance o seu máximo potencial produtivo.

Alguns exemplos de ações que fazem parte da agricultura regenerativa são:

  • conservação do solo 
  • recuperação de solos e pastagens degradadas;
  • manejo integrado de pragas, doenças e daninhas;
  • sistemas integrados de produção, como lavoura-pecuária-floresta (ILPF);
  • uso de insumos biológicos e orgânicos;
  • tecnologia de aplicação para evitar desperdícios e assim diminuir os danos ao meio ambiente;
  • digitalização da lavoura para otimizar os manejos, aplicando quantidades necessárias apenas em pontos necessários da lavoura;
  • utilização de energias limpas, como solar e eólica;
  • extrativismo sustentável;
  • hortas urbanas;
  • tratamento de dejetos animais;
  • reflorestamento e áreas de preservação permanente;
  • uso de insumos com tecnologia de alta eficácia, para a redução de custos e impactos, mantendo a eficiência de controle, proteção e produtividade;
  • adoção de manejos regenerativos, como semeadura ou plantio direto e rotação de culturas. 

A restauração de solos degradados é uma das partes mais importantes para cumprirmos o objetivo de aumentar a produção sem precisar abrir novas áreas agricultáveis. Mas afinal, o que define um solo degradado? Confira: 

Quem tem a ganhar com a Agricultura Positiva?

Como vimos ao longo da leitura, o conceito de sustentabilidade está diretamente ligado à durabilidade – e não só à durabilidade do meio ambiente e dos recursos naturais, mas também da esfera socioeconômica

Um pilar estabelecido em detrimento de outro não pode ser considerado sustentável. Se para alimentar a população mundial desmatarmos florestas, por exemplo, estaremos contribuindo para o aquecimento global e para a crise climática, que consequentemente limitam a produtividade agrícola, inviabilizando a atividade a longo prazo.

Do mesmo modo, se o uso de defensivos agrícolas fosse estritamente proibido, pensando em sustentabilidade ambiental, a perda de produção devido ao ataque de pragas seria muito superior aos 40% atuais, causando desabastecimento mundial, aumento da fome e da insegurança alimentar, encarecimento de todos os produtos alimentícios e matérias-primas e falência de muitos produtores rurais. 

Não é possível evoluir em meio ao extremismo. É preciso trilhar o caminho em que tecnologia, responsabilidade e respeito às pessoas e à natureza andem sempre juntos. 

A sustentabilidade só é real quando há o equilíbrio em seu tripé:

  1. crescimento econômico;
  2. proteção ambiental;
  3. igualdade social.

Para que isso aconteça, ela deve ser:

  1. economicamente viável;
  2. ecologicamente correta;
  3. socialmente justa

Assim podemos então finalmente responder a questão: quem tem a ganhar com a Agricultura Positiva?

O produtor rural 

Os agricultores sempre cumpriram com êxito o seu papel de alimentar o mundo com qualidade. A evolução da agricultura nos últimos anos revela a maior preocupação e interesse dos produtores em cultivarem suas lavouras com maior cuidado e atenção aos impactos ambientais.

Com a chegada das inovações tecnológicas em relação a insumos e maquinários, da conectividade no campo e de uma nova perspectiva sobre a importância que combater a crise climática tem para o agro, todo o setor tem vivido evoluções rápidas e constantes. 

Até mesmo a comunicação entre o segmento e a sociedade tem mudado, mostrando ao mundo que os produtores rurais são os mais interessados em preservar e reduzir o uso de defensivos agrícolas, pois a redução de custos é necessária para que o negócio seja economicamente viável – e essa é apenas uma das vertentes em que o produtor rural tem a ganhar com a agricultura regenerativa.

O maior benefício de uma lavoura sustentável é o equilíbrio natural do agroecossistema:

  • o solo é conservado e bem estruturado, favorecendo a microbiota, a fertilidade, a atividade orgânica e o armazenamento de água em profundidade, se tornando um ambiente ideal para o desenvolvimento das raízes e crescimento saudável das plantas;
  • a saúde do solo assegura que a planta aproveitará ao máximo a oferta de nutrientes, sem problemas de absorção ou perdas significativas por lixiviação ou erosão;
  • a presença de inimigos naturais coopera para manter o nível de equilíbrio (NE) das pragas, viabilizando um manejo integrado com alternativas de fortalecimento do controle biológico, reduzindo o volume de pulverizações e evitando, com margem de segurança, o nível de dano econômico (NDE). 
  • integrado a outros sistemas, como o florestal, as plantas desfrutam de maior conforto climático, com temperaturas e umidade em níveis favoráveis à produtividade e ao desempenho das culturas.

Todos esses efeitos benéficos para a produção agrícola são positivos também para os agricultores, que conseguem reduzir a necessidade de intervenções químicas e manejos emergenciais, além de otimizar o planejamento da safra pela maior previsibilidade climática. 

Além disso, ganham valor agregado e competitividade graças ao apelo do mercado por produtos sustentáveis – os custos de produção caem, enquanto a produtividade e a rentabilidade sobem.

O planeta

A busca por mitigar a crise climática é parte da nossa realidade. Depois de muito tempo sendo considerado vilão, o agro é atualmente apontado por cientistas e pesquisadores como parte fundamental da solução para o planeta. 

A agricultura tem sido duramente prejudicada por fenômenos climáticos extremos, mas não é possível reduzir os fenômenos climáticos extremos sem reduzir o aquecimento global, que, por sua vez, depende da redução da emissão de gases de efeito estufa, que também depende da preservação das florestas e da recuperação de solos degradados

É preciso conectar todas as pontas soltas e então essa engrenagem começará a rodar no sentido contrário, beneficiando o planeta e as atividades agrícolas. O planeta só tem a ganhar com a agriculturaregenerativa :

  • maior cobertura vegetal e conservação dos solos para evitar a emissão de CO2 na atmosfera;
  • preservação das florestas existentes e avanço das agroflorestas, com maior volume de árvores e arbustos, que retiram CO2 da atmosfera;
  • maior conforto térmico devido ao combate ao aquecimento global e equilíbrio do efeito estufa;
  • redução dos fenômenos climáticos extremos que geram perdas e prejuízos ambientais, sociais e econômicos;
  • proteção e preservação dos recursos naturais, respeitando o tempo de renovação e a utilização responsável desses recursos;
  • proteção e restauração dos ecossistemas;
  • diminuição da poluição e aumento da qualidade de vida, bem-estar e segurança alimentar.

A relação entre clima e agricultura se tornou tão importante que, na edição de 2022, pela primeira vez desde sua criação em 1995, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas criou com um pavilhão dedicado inteiramente ao tema. Líderes mundiais presentes na COP27 apostam na Amazônia como o bioma de grande potencial sequestrador de carbono e grande fornecedor de crédito de carbono para o mundo.

De um investimento de cerca de R$ 445,9 milhões pelo Financiamento para o Clima do Reino Unido para a recuperação de áreas degradadas, ILPF e manejo sustentável de florestas, cerca de R$ 50 milhões serão utilizados no Projeto Rural Sustentável – Amazônia, de 2023 a 2027. 

Segundo relatório da McKinsey, há a previsão de que projetos de agricultura regenerativa e redução de metano reduzam as emissões de carbono da agricultura no Brasil de 373 milhões para 160 milhões de toneladas de CO2 equivalente até 2030.

A sociedade

Depois de entender como a agricultura positiva pode reduzir os custos da produção agrícola e combater a crise climática, fica fácil associar o que a sociedade tem a ganhar com isso: 

  • maior disponibilidade de alimentos;
  • preços mais acessíveis;
  • aumento da segurança alimentar e combate à fome;
  • potencial para produzir a longo prazo, garantindo a subsistência das próximas gerações;
  • economia aquecida pela ecoeficiência;
  • empresas engajadas em aumentar a qualidade dos alimentos;
  • maior bem-estar e qualidade de vida.

Para os profissionais do campo, que são uma base forte da nossa sociedade, o desenvolvimento da sustentabilidade agrícola também promove:

  • a valorização dos trabalhadores;
  • o cuidado e a proteção para o manejo de insumos químicos;
  • o respeito às leis trabalhistas;
  • o investimento em capacitação técnica, de acordo com as inovações tecnológicas;
  • a valorização da agricultura familiar e de sistemas sustentáveis, como ILPF, agricultura orgânica, permacultura e agricultura positiva;
  • melhoria em bem-estar, qualidade de vida e conectividade nas áreas rurais.

Com uma sociedade cada vez mais informada, exigente e atenta a tudo que está acontecendo no mundo, o mercado consumidor tem ditado as regras para empresas, indústrias e investidores, gerando uma onda de conscientização e de múltiplos esforços para o desenvolvimento rápido de soluções tecnológicas e eficientes, que façam da agricultura positiva a nova forma oficial de se produzir alimentos.

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