Biodiversidade em foco: uma nova forma de produzir alimentos

Sustentabilidade
biodiversidade e agricultura

Se alguém te perguntar qual a maior diferença entre o planeta Terra e os outros planetas do sistema solar, o que você responderia? Você pode pensar em respostas como: oxigênio, plantas, pessoas, animais ou qualquer outro elemento que represente a vida na Terra – e nós podemos resumir tudo isso em uma só palavra: biodiversidade.

A biodiversidade é composta pelas diversas formas de vida que habitam o planeta, e que podem ser classificadas em três níveis, de acordo com as diretrizes definidasna Convenção das Nações Unidas sobre a Diversidade Biológica (CBD):

  • diversidade de espécies;
  • diversidade genética;
  • diversidade de ecossistemas.

É exatamente por possuir condições favoráveis para a existência e para o equilíbrio da biodiversidade que a Terra é o único planeta habitável que conhecemos até o momento. E, se quisermos que ela permaneça assim para as futuras gerações, precisamos preservar a diversidade e trabalhar no combate à crise climática e ambiental, mudando a forma como nos desenvolvemos e exploramos nossos recursos naturais.

Além do aumento significativo das temperaturas em decorrência do aquecimento global, estamos enfrentando também um grande aumento na perda de biodiversidade causada pela interferência humana nos ecossistemas e biomas. 

Segundo pesquisas da ONU, o ritmo de extinção de espécies está cerca de mil vezes acima do considerado natural. A estimativa é de que cerca de 34 mil espécies de plantas e 5,2 mil espécies de animais já enfrentam a extinção.

A perda da biodiversidade pode impactar de forma severa a produção e a disponibilidade de alimentos a nível mundial, além de alterar o equilíbrio biológico do nosso planeta, mudando completamente a expectativa de vida na Terra. Mas, se você já conferiu o nosso conteúdo sobre a agricultura ser a resposta para o combate à crise climática, vai gostar de saber que ela também é uma solução para a preservação da diversidade biológica – e essa transformação já está em ação por meio da agricultura regenerativa! 

O que tem causado a perda da biodiversidade e quais os riscos disso?

O tema biodiversidade é tão importante e crucial para a humanidade no cenário atual que esse se tornou um forte pilar das conferências e acordos mundiais sobre o meio ambiente. Entre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 da ONU, por exemplo, temos destaque para as metas de preservação da diversidade biológica das vidas marinhas (14) e terrestres (15). 

Mas afinal, se a natureza é cíclica e possui leis e regras próprias sobre cadeia alimentar e recuperação dos próprios recursos, o que tem abalado essa engrenagem e atenuado os processos de inflexão? A resposta para essa questão também responde à primeira pergunta feita nesse artigo: a humanidade. 

As pressões pelo desenvolvimento acelerado e exponencial da sociedade, das cidades e das indústrias, associada ao alto consumo e falta de práticas mais sustentáveis, fizeram com que a natureza fosse explorada em um ritmo mais agressivo do que sua capacidade de regeneração natural. 

Dentre os principais agentes causais da perda da biodiversidade, a ONU destaca:

  • a poluição;
  • a destruição de habitats naturais;
  • a introdução de espécies invasoras;
  • o crescimento populacional desenfreado;
  • a superexploração de recursos biológicos.

O fator que mais tem gerado preocupação e movimentação de líderes governamentais e instituições é a destruição de habitats. Isso porque o desmatamento, por exemplo – seja para urbanização ou abertura de novas áreas agricultáveis – tem forte impacto não só no desequilíbrio ambiental, mas também climático.

Do ponto de vista do agro, uma lavoura com o agroecossistema desequilibrado também sofre grandes perdas. Sem inimigos naturais, por exemplo, os cultivos ficam mais suscetíveis à pressão de pragas e doenças, aumentando a necessidade de pulverizações e elevando os custos de produção.

Ao mesmo tempo, os produtos químicos utilizados fora das recomendações e sem responsabilidade ambiental podem afetar os insetos polinizadores, como as abelhas, causando impactos significativos na fertilização das plantas e, consequentemente, na produtividade das espécies.

biodiversidade e agricultura

Com a perturbação do ecossistema em geral e as consequentes mudanças climáticas, temos uma drástica reação em cadeia, cujo potencial produtivo é reduzido – e, na mesma medida em que a disponibilidade de alimentos cai, os preços sobem, aumentando a crise humanitária e a fome no mundo.

Se não preservarmos a biodiversidade no presente, condenaremos o futuro das próximas gerações. 

Agricultura Regenerativa: como o agro pode colaborar na preservação da biodiversidade?

De acordo com relatório da Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES), a conservação da biodiversidade só é possível com a transformação prática do nosso cenário, por meio de:

  • mudanças na produção e no consumo de energia; 
  • uso sustentável de alimentos, rações, fibras e água; 
  • estabelecimento de metas internacionais de apoio;
  • investimento e políticas estratégicas que possam ajudar a sustentabilidade local, nacional e global.

Nesse momento preocupante e decisivo para o nosso planeta, não existe escolha se não mudar a maneira como exploramos nossos recursos e nos desenvolvemos – e a boa notícia é que isso já começou a acontecer. 

No setor do agronegócio já é possível perceber que empresas de tecnologia e pesquisa científica estão estabelecendo um novo e sustentável caminho para que os produtores rurais possam continuar exercendo seu papel fundamental para a humanidade.

Por meio da Agricultura Regenerativa e Positiva, temos uma nova forma de produzir alimentos. Entenda:

Diante da riqueza biológica do Brasil, temos potencial para ser não só um dos maiores produtores e exportadores mundiais de alimentos, mas também o mais sustentável, liderando a bioeconomia e o mercado de carbono

De acordo com a Confederação Nacional da Agricultura (CNA), os produtores brasileiros querem mostrar para o mundo a sustentabilidade agropecuária que já está sendo fortemente aplicada no país, mostrando que aliar produtividade à preservação não é só possível, mas necessário.

O termo "agricultura regenerativa e positiva" faz jus aos seus efeitos: benefícios ambientais e econômicos, do produtor rural ao consumidor final. A seguir, você confere alguns exemplos práticos de manejos sustentáveis que já são realidade no agro e que atuam na preservação da biodiversidade.

Reservas legais, Áreas de Preservação Permanente (APP) e Áreas de Uso Restrito (AUR)

As reservas legais, as áreas de preservação permanente e as áreas de uso restrito são medidas  que na auxiliam preservação da diversidade biológica e =. Previstos no código florestal, esses três conceitos visam a conservação da natureza e dos biomas brasileiros, impondo limites em relação à exploração econômica em determinadas regiões. 

A reserva legal é definida como uma área dedicada à proteção vegetal em uma propriedade. Toda área rural deve manter parte de sua vegetação nativa, que pode ser explorada comercialmente de acordo com as diretrizes sustentáveis estabelecidas no código florestal, como:

  • respeitando os períodos de coleta e volumes fixados em regulamentos específicos, quando houver;
  • respeitando a época de maturação dos frutos e sementes;
  • adotando técnicas que não coloquem em risco a sobrevivência de indivíduos e da espécie coletada;
  • preservando a cobertura vegetal e conservando a vegetação nativa da área;
  • assegurando a manutenção da diversidade das espécies;
  • realizando o manejo de espécies exóticas com a adoção de medidas que favoreçam a regeneração de espécies nativas.

Os percentuais da reserva legal podem mudar de acordo com a região e o tamanho da propriedade. Esse direcionamento é pré-estabelecido por lei, sendo necessária a realização do cadastro ambiental rural (CAR), o registro do tamanho da reserva legal e a definição de diretrizes e destinação da área junto ao órgão competente.

  • amazônia Legal I: 80% da área das propriedades rurais localizadas em áreas florestais nativas deve ser transformadas em reservas;
  • amazônia Legal II: 35% da área em propriedades situadas na região do Cerrado, sendo, no mínimo, 20% na propriedade e 15% na forma de compensação ambiental em outra área da mesma microbacia;
  • áreas de floresta em outros biomas: 20% nas propriedades localizadas em florestas ou outras formas de vegetação nativa em outras regiões do país;
  • área de campos gerais: 20% da área em propriedades rurais localizadas na área de campos gerais em qualquer região do Brasil.

No caso das Áreas de Preservação Permanente (APPs), como o próprio nome indica, as áreas determinadas deverão ser 100% preservadas, não sendo permitido nenhum tipo de exploração, salvo casos excepcionais determinados por órgãos ambientais.

O objetivo da APP é a preservação dos recursos naturais, da paisagem e da biodiversidade, favorecendo o ecossistema da região. Sendo assim, essas áreas são delimitadas a partir de cursos d’água, com larguras que podem variar entre 30 e 500 metros de distância das margens.

As áreas de preservação permanente também são determinadas a partir das diretrizes do código florestal, que prevê onze cenários para o estabelecimento da APP. 

Já as áreas de uso restrito, de acordo com o novo código florestal, são todas as áreas do pantanal que estão sujeitas a períodos de cheias e períodos de vazante, além das encostas de morros com inclinação entre 25° e 45°. Essas áreas podem ser utilizadas pelos produtores, com algumas restrições em relação ao tipo de atividade, garantindo a  utilização de técnicas de exploração ecologicamente sustentável e seguindo as recomendações técnicas dos órgãos oficiais de pesquisa, como a Embrapa.

Quer entender de maneira ainda mais prática como elas funcionam e quais são os benefícios? Assista:

Plantio Direto

Assim como preservar parte da vegetação nativa na propriedade, manter a cobertura vegetal na lavoura também é uma forma de beneficiar a biodiversidade do solo e o ecossistema. Por isso, o plantio direto está entre as principais práticas sustentáveis da agricultura regenerativa.

Sendo uma técnica implementada há mais de 50 anos, o plantio direto já ocupa mais de 36 milhões de hectares no Brasil – e a meta da  Federação Brasileira do Sistema de Plantio Direto (Febrapdp) é chegar a 75% de área plantada até 2030.

Se depender dos benefícios, essa meta será facilmente superada: além do potencial para sequestrar até 56 milhões de toneladas de CO2. O plantio direto ainda melhora a qualidade do solo e pode gerar um aumento de até 20% na produtividade dos grãos.

O Brasil é hoje um dos países que mais utiliza o sistema. A cada quebra de recorde na safra de grãos, ano após ano, reforçamos a que é possível aliar sustentabilidade e produtividade 

Em relatório, a Comissão Europeia para a Saúde do Solo e Alimentação mostrou que cerca de 70% dos solos agrícolas da União Europeia estão doentes, enquanto 30% estão perdendo carbono, corroendo ou sendo muito compactados. Como solução principal, os agricultores da região estão realizando a transição do sistema convencional para o plantio direto. 

Quer entender melhor quais as vantagens do sistema plantio direto para a biodiversidade e para o produtor rural? Confira:

Integração lavoura-pecuária (ILP) e lavoura-pecuária-floresta (ILPF)

Aliando reservas nativas, plantio direto, rotação de culturas e outras práticas sustentáveis, a integração de sistemas como lavoura-pecuária e lavoura-pecuária-floresta são outros excelentes exemplos práticos de como o agro pode ajudar no combate a crise da biodiversidade.

Seja pela ação de evitar o desmatamento ou por replantar florestas e recuperar áreas degradadas, os sistemas integrados promovem um aumento da vegetação, ampliando também a capacidade de sequestro de carbono e a diversidade biológica na área. 

Além de promover um equilíbrio agroecológico, enriquecer o solo e possibilitar maior produtividade com menor custo de produção, a ILP ou ILPF também diversifica a renda do produtor, agregando vantagens econômicas diretas e indiretas. 

A previsão para 2030 é de que o Brasil chegue a 30 milhões de hectares com sistemas integrados. 

Confira como o sistema integrado de produção contribui para a evolução da sustentabilidade agrícola:

Florestas de pé e agricultura de baixo carbono como nova commodity

O Brasil foi destaque na Conferência do Clima (COP27), que aconteceu no Egito, em novembro (2022). A preocupação com a Amazônia e os avanços das ações no combate à crise climática fizeram com que os olhos estivessem voltados para o nosso país.

Sabemos que o Brasil tem uma capacidade gigantesca de ser líder mundial no mercado de carbono e que podemos produzir mais sem precisar abrir novas áreas agricultáveis – e foi essa a postura dos líderes nacionais durante a COP27. 

Governadores do Consórcio da Amazônia Legal pediram por mais agilidade na implementação dos pagamentos por serviços ambientais e na estruturação da bioeconomia, com maior celeridade na tramitação dos apoios internacionais

Ou seja, além de maior produtor e exportador de grãos do mundo, nosso país pode também ser o maior protetor de florestas e biomas, conservador da biodiversidade e fornecedor de crédito de carbono do planeta, combatendo a crise climática mundial por meio da agricultura regenerativa. 

Quer saber mais sobre o que são os serviços ambientais e como eles podem proteger a biodiversidade? Assista:

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