Os 5 fenômenos climáticos que mais impactam a agricultura

Sustentabilidade
fenômenos climáticos na lavoura

Qual é a primeira cena que vem à sua mente quando você pensa em um fenômeno climático? Se você imaginou um ciclone, um furacão ou uma tempestade acompanhada de ventos fortes, raios e trovões, você pensou certo. Mas, sabia que uma chuva leve no fim da tarde ou um calor intenso em um domingo também fazem parte dessa classificação?

Na verdade, todos os eventos meteorológicos naturais que podem ser descritos cientificamente e monitorados são considerados fenômenos climáticos, sejam eles esporádicos e intensos ou rotineiros e comuns – e é por isso que esse assunto tem tudo a ver com a agricultura!

As mudanças climáticas são reais e se intensificaram nos últimos anos, causando alterações nos fenômenos meteorológicos e chamando a atenção sobre como o agro pode ser afetado, mas também parte da solução para essa preocupação global. 

Exploramos esses e outros pontos importantes no primeiro blog dessa sequência, com o tema Mudanças climáticas e Agricultura. Agora, queremos trazer com clareza quais são os fenômenos climáticos que mais impactam a agricultura e o que isso muda, de fato, na vida dos agricultores e da sociedade.

Antes de tudo, precisamos falar sobre os fenômenos climáticos extremos

Para quem começou essa leitura imaginando furacões e tempestades, é aqui que eles entram: os fenômenos climáticos extremos são os eventos que causam prejuízos e catástrofes. Surgem de maneira natural, mas também podem ser intensificados por ações humanas por meio, por exemplo, das mudanças climáticas.

Se você tem acompanhado as notícias ao redor do mundo, provavelmente já se deparou com alguma reportagem falando sobre as ondas de calor extremas na Europa, sobre as inundações de fazendas e a seca extrema na China ou sobre o aumento dos deslizamentos de terra no Brasil. 

Em julho desse ano (2022), as temperaturas no Reino Unido ultrapassaram 43ºC, quebrando um recorde histórico e obrigando as autoridades a fecharem aeroportos e linhas de trem. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), somente na Espanha e em Portugal foram registradas mais de 1700 mortes causadas pela onda de calor.

aquecimento global

Comparação da intensidade e abrangência do calor nos dias mais quentes da história do Reino Unido nas grandesondas de calor de 1976, 2003, 2019 e 2022 | Infográfico: MET OFFICE

Na China, também em julho deste ano, chuvas extremas quebraram recordes em algumas regiões, causando mortes e prejuízos para a agricultura. Já no norte do país, fortes ondas de calor contribuíram para recordes de temperatura. 

Com termômetros chegando aos 45ºC, autoridades chinesas tentaram induzir chuvas para combater a seca extrema, lançando ao céu "foguetes" carregados de produtos químicos. O país destinou cerca de 30 milhões de dólares em ações para tentar mitigar esse problema.  

No Brasil, a seca do Rio Paraná, que atingiu o seu nível mais baixo em 77 anos, entrou para a lista dos principais fenômenos climáticos extremos de 2021, em um estudo realizado pela ONG Christian Aid. Ainda no final de 2021, municípios de São Paulo e Minas Gerais sofreram com tempestades de poeira causadas por um misto de estiagem, queimadas, ventos e chuvas. 

comparação rio paraná

Comparação do rio Paraná entre 2014 e 2021. Foto: Conae

No início de 2022, as atenções do nosso país estavam voltadas para as enchentes na Bahia, onde 165 municípios decretaram estado de emergência e mais de 850 mil pessoas foram atingidas. 

Mas e o agro com isso?

Do campo à cidade, a relação entre as atividades agrícolas e o clima são óbvias. Mas por que o aumento na ocorrência de fenômenos extremos preocupa especialistas do setor? 

A resposta é simples: quanto mais instável o clima se torna, mais difícil fica identificar com precisão e antecedência os eventos que influenciam o planejamento no campo. O histórico climático da região, por exemplo, é um fator de extrema relevância na hora de escolher culturas, variedades, insumos e criar um calendário de manejos eficiente.

Por serem naturais e essenciais para a vida e para a lavoura, os fenômenos climáticos sempre fizeram parte da rotina dos agricultores. No entanto, eventos extremos ou inesperados podem gerar atrasos, perdas e danos significativos, causando prejuízos que se estendem aos consumidores finais na forma de redução da disponibilidade e aumento no preço dos alimentos.

No início de 2022, enquanto cerca de 50 mil produtores sofriam com as fortes chuvas na Bahia, fortes ondas de calor causavam R$ 45 bilhões em prejuízos nos estados do Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul. 

enchente brasil

Voltando aos eventos climáticos comuns, como chuvas, geadas e veranicos, a falta de previsão e a falta de agilidade nas ações também podem atrapalhar a lavoura – o que reforça a importância do setor estar sempre em alerta em relação ao clima.

Fenômenos climáticos, agricultura e clima tropical: o combo de desafios para os agricultores brasileiros

Como você já viu até aqui, os fenômenos climáticos podem ser moderados ou extremos, mas definitivamente fazem parte da nossa vida e do dia a dia no campo, não só no Brasil, mas no planeta como um todo. 

É importante lembrar que o nosso país tropical não é só bonito por natureza, ele é climaticamente favorável para a agricultura – o que também torna mais perceptível qualquer alteração climática. Nós temos mais chuvas, sol, umidade, alta luminosidade, temperaturas amenas e uma biodiversidade que ajuda no equilíbrio do ecossistema agrícola. 

Mas o outro lado da moeda é proporcionalmente desafiador: pragas, doenças e plantas invasoras também são favorecidas pelo clima tropical, e os fenômenos, sejam moderados ou extremos, podem aumentar a pressão desses fatores no campo.

Na hora de planejar a produção pensando em produtividade, rentabilidade e sustentabilidade, existem pelo menos 5 fenômenos climáticos principais que causam impactos diretos à lavoura. Confira a seguir:

1. Chuvas

Essencial para as plantas, o fenômeno climático chuva causa impactos tanto diretos, por meio da disponibilidade de água no solo para sementes e plantas, quanto indiretos, como no manejo das temperaturas e da umidade. Existem três tipos de chuvas, classificadas em:

  • Frontais
  • Orográficas
  • Convectivas

As chuvas frontais ocorrem quando acontece o choque entre uma massa de ar frio com uma massa de ar quente. As chuvas orográficas são resultado do bloqueio de massas de ar úmido pelo relevo, o que é comum em regiões montanhosas. Por fim, as chuvas convectivas são caracterizadas pela diferença de temperatura na superfície próxima às camadas da atmosfera terrestre, onde o ar quente sobe e o ar frio desce – as chamadas chuvas rápidas de verão. 

A irregularidade de chuva nas lavouras pode causar diversos impactos, como atrasos no plantio e na colheita, redução da eficiência das pulverizações e interferências fisiológicas nas fases reprodutivas das plantas. Com o aumento dos eventos extremos, a imprevisibilidade desse fenômeno se torna um desafio para os produtores rurais. 

2. Ondas de calor

As ondas de calor podem ser consideradas eventos extremos, principalmente se observarmos que esse fenômeno vem se intensificando nos últimos anos junto ao aumento das temperaturas a nível global. Cientificamente, podemos definir ondas de calor como episódios em que as temperaturas ficam acima da média para o período por, pelo menos, 3 dias.

No cenário da agricultura, a alta velocidade de evaporação nessa situação faz com que a baixa umidade prejudique o desenvolvimento das plantas. Além da crise hídrica e da privação dos nutrientes, as ondas de calor causam danos diretos aos tecidos vegetativos – e pesquisadores do setor já alertam para uma escassez de pólen causada pelo calor, que pode impactar a produção de alimentos mundialmente.

Como solução para superar esse desafio, empresas de tecnologia buscam formas de gerar cultivares mais resistentes. E o agro, juntamente com outros setores, se empenha em combater as mudanças climáticas que intensificam as ondas de calor.

3. Geadas e chuvas de granizo

As geadas e as chuvas de granizo são fenômenos climáticos mais recorrentes nas regiões de Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. As principais diferenças entre as duas situações, são:

  • Geadas – formação de uma camada de gelo sobre a superfície exposta, podendo ser considerada "geada branca" com o congelamento da área superficial, ou "geada negra", quanto a temperatura está abaixo de 10º e o congelamento causa a morte da planta.
  • Chuvas de granizo – tipo de precipitação que geralmente causa a mistura da chuva comum com pequenos pedaços de gelo maiores que 5 mm. As pedras são formadas nas nuvens devido a uma queda brusca de temperatura.

Seja em função das baixas temperaturas em ambos os casos ou dos danos físicos causados pelo granizo ou pela queima do gelo nas folhas, esses eventos extremos causam sérios prejuízos às lavouras, como a perda da área foliar e a morte das plantas.

Aqui, o desafio dos produtores é não só escolher cultivares com maior resistência a essas condições, mas conseguir prever os eventos cada vez mais imprevisíveis e encontrar formas de proteger a plantação. 

4. Veranicos

Durante o fenômeno climático conhecido como veranico, as temperaturas atingem seus extremos, tanto nas máximas quanto nas mínimas. Além disso, o evento conta com forte radiação solar, causada pelo sol intenso, baixa umidade e estiagem prolongada.

O veranico acontece principalmente quando há a presença de massas de ar seco e quente, formadas por sistemas de alta pressão atmosférica. Você já notou alguma vez, durante o inverno, um aumento repentino de temperatura que te fez duvidar se realmente estávamos nessa estação? Uma sensação de "pequeno verão" fora de época? Esse é o veranico.

Para as lavouras, o fenômeno causa a desidratação das plantas pelas altas temperaturas somadas à baixa umidade e estiagem, situação que pode se manter por mais de 20 dias. Para mitigar os efeitos das estiagens, veranicos e secas em geral, é essencial realizar um manejo integrado visando a conservação do solo, o pleno desenvolvimento das raízes e, se necessário e possível, adotar uma estratégia de irrigação. 

5. El Niño e La Niña

E para fechar nossa lista, temos os famosos fenômenos climáticos tão falados e relevantes para a agricultura: El Niño e La Niña.

O El Niño é um evento esporádico de aquecimento das águas do Oceano Pacífico, em que as temperaturas sobem de maneira atípica, aumentando a evaporação da água e resultando em chuvas mais densas. Apesar do Brasil não ser um país banhado por esse oceano, as temperaturas dessas águas geram impactos diversos por aqui, como:

  • redução do índice de chuvas, causando estiagens e secas intensas nas regiões Norte e Nordeste;
  • aumento da temperatura e da quantidade de pancadas de chuvas nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste.

Já o fenômeno La Niña é exatamente o oposto. O evento é caracterizado pelo resfriamento atípico das águas do Oceano Pacífico, alterando a distribuição de calor e umidade em várias partes do planeta. No Brasil, as alterações observadas reforçam os seguintes contrastes climáticos:

  • aumento da quantidade de chuva no Norte e no Nordeste;
  • redução das temperaturas e períodos de seca e estiagem nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. 
el nino e la nina

No cenário comum, tanto o El Niño quanto o La Niña são eventos que acontecem de maneira indeterminada e eventual, podendo ter intervalos de 2, 7 ou até mesmo 10 anos. No entanto, seguindo a tendência dos fenômenos extremos e das mudanças climáticas, especialistas da Organização das Nações Unidas (ONU) afirmam que o La Niña pode ter duração inédita neste século.

Para a agricultura, esses eventos podem ter impactos positivos ou negativos, dependendo da região, da cultura e do ciclo em que as mudanças climáticas incidem. O La Niña, por exemplo, chegou a alterar o ranking dos produtores de soja na safra 2021/22. 

A Agricultura Regenerativa como resposta 

Diante de tantas especulações, previsões, instabilidades e mudanças, a relação entre os fenômenos climáticos e a agricultura está mais crucial do que nunca. 

Agora, a discussão não é mais simplesmente sobre os impactos da agricultura no clima, ou do clima na agricultura, mas sim sobre como fazer dessa atividade essencial para a sobrevivência humana um dos pilares na recuperação e no fortalecimento da saúde do nosso planeta.

E a agricultura realmente pode ajudar a reverter as mudanças climáticas? A Syngenta responde:

A Agricultura Regenerativa e Positiva é parte da solução que vai reduzir impactos, combater o aquecimento global e mitigar os problemas ambientais. E esse será o assunto do nosso próximo blog, o terceiro e último dessa sequência sobre Mudanças Climáticas.

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