Mudanças climáticas e agricultura: causas e consequências

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Não é de hoje que especialistas destacam a emergência dos problemas ambientais causados pelas atividades humanas. A diferença neste início de segunda década do século XXI é que já temos dados suficientes para entender o andamento dos fenômenos e propor soluções. Nesse contexto, associar mudanças climáticas e agricultura é indispensável, pois, ao contrário de muitas outras áreas produtivas, a atividade agrícola tem o potencial de mitigar as alterações de temperatura a longo prazo.

O raciocínio pode parecer óbvio: a agricultura lida diretamente com os recursos naturais, e a maneira de explorá-los é definidora frente às questões ambientais. No entanto, não queremos aqui tratar de obviedades. A ideia é ir um pouco além e compreender, de maneira técnica e aprofundada, como mudanças climáticas e agricultura se entrelaçam. 

Não é um tema simples, e nem todos estão dispostos a encará-lo, mas é chegada a hora de nos apropriarmos do assunto, e entender o papel da agricultura regenerativa em prol da preservação do meio ambiente, com foco em mapear e frear os impactos que as mudanças climáticas causam na produção de alimentos. 

O fato é que a atividade agrícola não está isenta dos impactos ambientais, como qualquer outra produção humana. O setor é responsável por 22% das emissões globais de GEE (Gases de Efeito Estufa).  A boa notícia é que há práticas que vão além de reduzir as emissões: é possível combater as mudanças climáticas por meio da agricultura.   

Essa possibilidade se encontra em métodos regenerativos que ampliam ao máximo o sequestro de carbono. Além de serem mais rentáveis, pela otimização dos processos e do uso dos recursos disponíveis.  

A fim de entender a fundo esse contexto, vamos abordar o que a ciência entende por mudanças climáticas e os impactos da agricultura.

O que é mudança climática?

Para apontar uma alternativa estratégica para a agricultura nos próximos anos é preciso, antes de tudo, que todos compreendam o que realmente significa mudança climática. Esse é um fenômeno que não acontece do dia para a noite, muito menos de um ano a outro. Só se pode verificar uma real mudança no clima de determinada região a partir de décadas de comparação de dados.  

 Os envolvidos nessa análise colhem informações ao longo do tempo, fazendo uma média histórica de 30 anos de dados atmosféricos, o que envolve, principalmente, a densidade pluviométrica e a temperatura. Com isso, é possível fazer uma média estatística para determinar o clima de um local. Tal média apresenta o que os meteorologistas chamam de variabilidade climática, ou seja, raramente um mesmo local apresenta condições iguais à média para determinado período do ano.  

O fato de que choveu mais que a média em um ano não significa necessariamente uma mudança no clima. A mudança climática só acontece, de fato, se a média do clima para uma mesma região apresentar alterações ao longo do tempo. Assim, podemos afirmar que mudança climática é uma alteração contínua de uma variável de clima (temperatura ou chuvas, por exemplo) observada em áreas específicas a partir de dados comparados sistematicamente. 

É verdade que o clima global está mudando?

A mudança climática não pode ser percebida em curto prazo. Ter um ano mais quente que outro faz parte da variabilidade do clima, que é natural, afinal, a atmosfera é bastante dinâmica, está em constante movimento, sendo inviável que as estatísticas de médias climáticas acompanhem as realidades locais. Mesmo assim, não é incorreto afirmar que mudanças climáticas já estão em curso. 

O fenômeno vem sendo observado pelos Institutos Agronômicos ao redor do mundo, que verificam uma linha crescente na média de temperatura anual dos últimos 150 anos de registros. De fato, a NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration), centro de referência em pesquisas climáticas vinculado ao governo dos EUA (Estados Unidos da América), calcula que o clima global tem crescido 0,8 ºC por década desde 1880 

Ainda assim, o problema é um tanto mais delicado do que esse aumento da média de temperatura ao longo dos anos, pois a taxa de aquecimento dobrou a partir de 1981, de acordo com a Administração, alcançando um valor de + 0.18 ºC.  

Isso sim se configura como mudança climática. A cada ano a média de temperatura máxima bate o último recorde. Outro sinal que os estudiosos observam para confirmar a mudança no clima é o fenômeno do aquecimento global, verificado pela medição de termômetros espalhados pelo mundo todo.  

Assim, os modelos climáticos apontam uma subida intensa de temperatura até 2050, o que pode afetar agressivamente a agricultura. 

Infográfico Clima Global

Mudanças climáticas, aquecimento global e efeito estufa

A temperatura é a variável mais acessível para mensurar as mudanças climáticas globais, apesar de outros índices, como o pluviométrico e o nível dos oceanos, também serem indicadores. A média de temperatura é usada como referência por ser o mais diretamente atingido pelo aumento da concentração de GEE (Gases de Efeito Estufa), afetando outros recursos como consequência.

Diante disso, antes de alinharmos mudanças climáticas e agricultura, é preciso compreender o fenômeno do efeito estufa e sua relação com o aquecimento global. Intrínseco ao funcionamento da Terra, o efeito estufa é o que permite a manutenção da temperatura terrestre em uma média de 15 ºC, o ideal para a sobrevivência da biodiversidade que compõe os ecossistemas.

Sem ele, o planeta teria uma temperatura de 30 ºC negativos, tornando inviável as formas de vida. O fenômeno se deve a uma camada de gases atmosféricos, conhecidos como Gases de Efeito Estufa, que criam uma proteção no entorno do globo. A radiação dos raios solares penetra por essa camada e, quando atinge a superfície terrestre, reflete e retorna para o espaço. No entanto, por conta da camada de gases, parte da radiação fica presa na atmosfera, mantendo a energia que aquece o planeta 

Nos últimos 150 anos, uma série de atividades humanas tem feito com que haja excesso de emissão de GEE em ciclos não renováveis. Isso significa que os gases gerados não retornam para a natureza, tornando a camada da estufa mais grossa, de maneira a reter mais radiação e esquentar mais a superfície terrestre. Assim, o efeito estufa é um fenômeno natural, enquanto o aquecimento global é um resultado da ação humana sobre ele. 

 Com o aquecimento global, há uma modificação geral das diversas circulações atmosféricas que em cenários futuros pode causar eventos extremos, como: excesso de chuvas e de secas, que se tornarão mais intensas e frequentes; ondas de frio incomuns; e dias muito mais quentes que o normal.  

Qual a relação entre mudanças climáticas e agricultura brasileira?

Com o aquecimento global e as consequentes mudanças climáticas, as atividades humanas também vão sofrer de forma intensa, principalmente a agricultura, uma vez que as plantas precisam de uma faixa climática adequada para se desenvolverem.

Experiências práticas já demonstram que é possível continuar produzindo com qualidade, desde que produtores estejam informados a respeito do comportamento do clima e das medidas de adaptação de manejo que precisam ser aplicadas.

O primeiro fator que relaciona mudanças climáticas e agricultura é a emissão de GEE a partir das atividades agrícolas: 

  • CO2: o dióxido de carbono é gerado pela agricultura por meio de queimadas e mudança de uso do solo, para abrir áreas agricultáveis; 
  • CH4: o metano é proveniente de processos de fermentação e respiração anaeróbica;
  • N2O: o óxido nitroso está relacionado à adubação nitrogenada.

 Portanto, quando se fala em agricultura como emissora de poluentes, não apenas o CO2 faz parte dessa matemática. Esse composto ganha destaque não por ser o mais agressivo, mas por ser o mais abundante, alcançando taxas altíssimas de emissão nos últimos 50 anos.

O que se percebe é que os três gases relacionados à agricultura são os menos importantes para a questão climática, mas crescem em importância pela quantidade. Da mesma forma, o Brasil está longe de ser um dos principais países poluentes, mas ganha destaque por concentrar parte significativa das áreas verdes do mundo.

Em condições normais, a variação de CO2 na atmosfera é comum de ser observada: em tempos de inverno intenso no Hemisfério Norte o planeta consome muito combustível fóssil para manter o aquecimento médio, no verão, o CO2 na atmosfera é absorvido pelas plantas durante o processo de fotossíntese, imobilizando o gás em forma de matéria orgânica vegetal viva.

Mas, a agricultura e as florestas brasileiras, podem ser grandes reservatórios de carbono sendo possível alcançar um equilíbrio entre plantio, colheita e manutenção de florestas.

Infográfico florestas

Se a ausência de plantas interrompe o ciclo do carbono e contribui para as mudanças climáticas, a agricultura é o segmento com capacidade de mitigar o processo de aumento de temperatura, que interfere diretamente na produção de alimentos e de energia.

Projeções para a agricultura em um futuro de temperaturas elevadas

 As variações de temperatura e mudanças no ciclo das águas decorrentes das alterações no clima global têm efeitos diretos na prática agrícola. Alguns deles já foram comprovados cientificamente, tais como: 

  • Ciclo fenológico das plantas fica mais curto: a elevação da temperatura leva a planta a cumprir seu ciclo em menor tempo.
  • Aumento do consumo hídrico: quanto mais energia disponível, maior a evapotranspiração da cultura.
  • Aumento da janela de semeadura em ambientes mais frios.
  • Efeitos negativos no florescimento de espécies sensíveis: as culturas do café e do citros, por exemplo, podem sofrer abortamento do botão floral se a temperatura aumenta por três dias consecutivos. As ondas de calor são devastadoras para essas culturas, pois sem florada não tem fruto.
  • Afeta o ciclo das pragas, pois a temperatura é determinante para o comportamento dos organismos, sendo possível que haja mais ciclos de pragas por mês ou por cultivo.
  • Aumento da taxa de respiração e mudança da taxa de fotossíntese: pode ser evidenciado em locais com temperatura noturna alta, onde as plantas apresentam menor capacidade de produção. A necessidade de consumir mais carboidrato para manter a planta viva faz com que ela respire mais, reduzindo a produção, de maneira que temperatura, taxa de respiração e produtividade estão diretamente associadas.

 Nesse cenário, um futuro com temperaturas elevadas tende a resultar em queda de produção das culturas de forma generalizada. Por outro lado, os cultivos também são influenciados pelo aumento da concentração de CO2na atmosfera: 

  • O CO2 tem efeito benéfico para as plantas. A tendência é que a taxa fotossintética aumente, o que favorece a produtividade, mas também a incidência de daninhas.
  • Ganho na eficiência do uso da água. O aumento do CO2 causa fechamento parcial dos estômatos, o que significa que a cultura pode produzir a mesma quantidade usando menos água por transpirar menos. Nessa condição, a cultura torna-se mais resiliente a momentos de estresse hídrico. 

Considerando que a temperatura pode levar a decréscimo de produção, enquanto o CO2 pode resultar em acréscimo, o balanço final dependerá de como o processo se dará em cada região e para cada cultivo.

O que se sabe, além dos já comentados efeitos em culturas extremamente sensíveis a oscilações climáticas, é que a produção de grãos pode perder parte da área agricultável, com prejuízos estimados em 7,6 bilhões de reais em soja, mais de 400 milhões de reais em feijão, mais de 1 bilhão de reais em milho. 

Diante disso, reservaremos mais dois conteúdos para tratar de mudanças climáticas e agricultura, a fim de ampliar os temas específicos dos fenômenos climáticos que já podem ser previstos atualmente e das práticas de manejo que, se aplicadas hoje, são capazes de mitigar as mudanças climáticas e seus efeitos negativos na agricultura. 

Acompanhe o site da Syngenta Brasil para se atualizar a respeito da atividade agrícola no Brasil e sua jornada sustentável.