Agricultura regenerativa e a responsabilidade ambiental do agro

Sustentabilidade
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O agronegócio é um setor diretamente impactado pelas mudanças climáticas decorrentes de processos que priorizaram as necessidades do mercado sem promover ações de proteção aos recursos naturais. Hoje, reverter esse cenário é urgente.. Por isso, a agricultura regenerativa destaca-se como chave para recuperar áreas degradadas, em estratégias que vão muito além de reduzir as emissões de GEE (Gases de Efeito Estufa).

Em conteúdo publicado pela Syngenta recentemente, é possível perceber a relação entre a produção agrícola e a preocupação com a preservação ambiental, assim como a importância do Brasil no processo de inversão da lógica da degradação sem interferir nas metas de produtividade do segmento, que são cada vez mais desafiadoras.

Diante da necessidade de continuar suprindo a demanda por alimentos e por matérias-primas nas indústrias de energia e combustíveis e, ao mesmo tempo, oferecer soluções que sejam ambientalmente responsáveis, a agricultura regenerativa, endereçada também como agricultura positiva, se coloca como estratégica na construção de um futuro saudável para todos.

Em primeiro lugar, é importante evidenciar que esse conceito defendido pela Syngenta não é contraditório nem impraticável. É possível, desde já, fazer com que grandes produções agrícolas caminhem em consonância com o equilíbrio ambiental, trabalhando não apenas no sentido de evitar novas perdas, mas também para ampliar a qualidade dos solos.

Em segundo lugar, é preciso abandonar a ideia de que a sustentabilidade é uma visão romântica ou um discurso mercadológico. A urgência em alinhar agricultura e sustentabilidade é irrevogável, e, para isso, a agricultura regenerativa não se coloca apenas sob um viés ideológico, ela oferece, um plano de ação materializável, especialmente no contexto brasileiro, cujo território apresenta todos os recursos e características necessários para concretizar essa aliança.

Práticas acionáveis para beneficiar o produtor, a população e o meio ambiente já são, em parte, adotadas pelos produtores rurais, que têm papel extremamente significativo na economia nacional, em um país em que 27,4% do PIB (2021) é proveniente do agronegócio

O que falta é naturalizar e integrar todas essas práticas, para potencializar a força do segmento em reverter as mudanças climáticas em curso, como também utilizar uma agricultura regenerativa e verdadeiramente positiva para proteger o solo: o grande reservatório de carbono, responsável pela quantidade e pela qualidade das plantas.  

O papel da agricultura no mundo

A agricultura é uma atividade que faz parte da humanidade há mais de 12 mil anos. Foi a partir dos cultivos que o ser humano conseguiu estabelecer comunidades sedentárias, ou seja, fixas em uma localidade, promovendo a aculturação das sociedades, o aumento populacional, a melhoria da qualidade de vida e, consequentemente, a expansão da longevidade.

Foi essa cadeia produtiva que possibilitou ainda a domesticação de animais para pecuária, avançando na qualidade nutricional das populações. Com o advento da indústria, a partir do século XVIII, alcançou-se a produção em larga escala e o desenvolvimento tecnológico que globalizou a economia, permitindo a distribuição em massa dos produtos agrícolas com a sofisticação dos meios de produção e de transporte.

Atualmente, é das lavouras que saem as principais matérias-primas para a produção industrial, desde a fabricação de tecidos e alimentos até combustíveis e energia. Isso demonstra o tamanho da responsabilidade do setor agrícola na manutenção da vida das comunidades.

Segurança alimentar

Mais que combater a fome, a agricultura se coloca como provedora de alimentos com o valor nutricional necessário para a saúde dos indivíduos. A nutrição adequada é colocada como um direito humano e é proveniente das lavouras pelo mundo, que colhem grãos, tubérculos, hortaliças e leguminosas.

Assim, a agricultura brasileira não apenas se coloca no mercado global de alimentos, mas é um dos agentes indispensáveis para suprir a demanda, que tem perspectiva de aumentar em 70% até 2050, pelo aumento populacional. Com isso, a agricultura positiva tem em vista também – talvez principalmente – a segurança alimentar das gerações futuras.

Sustenta setores diversos na indústria

À produção agrícola compete a matéria-prima para fabricação de tecidos (algodão), cosméticos (óleos extraídos de sementes), bebidas (soja, milho, cana, citros), biocombustíveis (milho e cana), energia (resíduos da cana), derivados de carne (soja), celulose e papel (eucalipto), café e açúcar.

São essas as culturas que participam diretamente de 22,3% da produção industrial, para além da indústria de alimentos, que incluiria ainda o trigo e outros grãos no processamento de farináceos, óleos vegetais, panificação e massas.

Assim, é evidente que grande parte dos produtos que passam pela mão do consumidor hoje sai das lavouras.  

Promove disrupturas e impulsiona tecnologias

A crescente demanda pelos produtos agrícolas e a intensa relação entre agricultura, pecuária e indústria são fatores que fazem com que o setor seja promotor de desenvolvimento tecnológico como via de ampliar a produtividade das lavouras, de otimizar os processos de produção e de priorizar a sustentabilidade.

Como exemplo, temos:

  • o desenvolvimento de cultivares mais produtivas e resistentes;
  • o aprimoramento de maquinários para operação nas lavouras;
  • a criação de soluções de logística para distribuição dos produtos;
  • o aperfeiçoamento de técnicas de eficiência do uso do solo;
  • a criação de tecnologias para Tratamento de Sementes.

O potencial disruptivo do setor agrícola se mostra há décadas, mas recebe ainda mais prestígio com a agricultura regenerativa e a potencialização de uma sociedade sustentável, com integração entre a produção e a conservação ambiental.

LAVOURA DE CAFÉ

Produção de café no interior de São Paulo no início do século XX. Fonte: Revista Pesquisa Fapesp, 2020.

Com a fundamentação da função geral da agricultura para a sociedade, vale um recorte histórico e territorial a respeito do potencial agrícola brasileiro, para compreender o cenário do setor no país, evidenciar os caminhos percorridos até aqui e desmistificar o conceito de agricultura regenerativa, que ainda é muitas vezes tido como utópico.

A agricultura intensiva no Brasil: um histórico que já foi superado

De 1500 a 1930, ou seja, durante 430 anos, a economia brasileira foi basicamente fundamentada na agroexportação. Mesmo após o desenvolvimento da indústria no país, a partir da década de 30, a produção agrícola manteve sua função de produzir alimentos e matérias-primas para a indústria, agora com uma demanda interna também crescente, conferindo ainda mais importância aos grandes e pequenos latifúndios.

O interesse mundial na agricultura brasileira não é, e nunca foi, arbitrário: o território do país tem a maior quantidade de terra agricultável do mundo, além de um clima propício para o cultivo das principais culturas, da presença dos maiores aquíferos subterrâneos e da diversidade de fauna e flora.

No entanto, não faz mais de 50 anos que o Brasil produz conhecimentos e desenvolve tecnologias para o agro com autonomia. Assim, em muitos lugares o solo empobreceu rapidamente, por conta da agricultura intensiva, fazendo com que fosse necessário sempre migrar as culturas para áreas mais produtivas, um ciclo de degradação que está sendo superado, por meio de iniciativas que protegem a saúde do solo..

Naturalizando a preservação ambiental na agricultura

Ao longo do século XX, percebeu-se que atividades de agricultura intensiva sem qualquer preocupação com o uso do solo e com a preservação das florestas significaria uma queda do potencial agrícola brasileiro. 

Assim, diversas legislações foram criadas, para regular a atividade agrícola e estabelecer APPs (Áreas de Preservação Permanente). Em 1981, foi sancionada a PNMA (Política Nacional do Meio Ambiente), instituindo o direito ambiental. Dez anos depois, é promulgada a Lei 8.171 de 1991, que define a política agrícola, tendo como principal avanço a determinação de dedicar parte das grandes propriedades à reserva florestal.

Dessa forma, consolidou-se a responsabilidade da agricultura frente ao meio ambiente no Brasil. Engana-se quem pensa que essas legislações não surtem efeito. Em um levantamento anual do desmatamento na Amazônia, verificou-se que quase 30 mil km2 foram desmatados em 1995, esse número diminuiu para pouco mais de 5 mil km2 vinte anos depois. Em contrapartida, aumentou-se o número de áreas preservadas, especialmente em propriedades agrícolas.

Atualmente, os produtores rurais brasileiros  já assumem seu papel na preservação da vegetação nativa. 163 milhões de hectares preservados estão em propriedades agrícolas, o equivalente a dez países europeus, além dos territórios dedicados à proteção ambiental. Somando as áreas rurais de preservação, de proteção e de vegetação nativa, o resultado chega a 66,3% do território nacional (564 milhões de hectares).

O agro brasileiro: do latifúndio à agricultura regenerativa

INFOGRÁFICO

A manutenção das florestas é , um dos temas de grande relevância para a agricultura regenerativa, pela capacidade das árvores em capturar carbono, em manter a umidade do ar (apenas uma árvore de grande porte pode transpirar, por dia, 400 litros de água) e assegurar a qualidade do solo, preservando sua microbiologia e características químicas e físicas. Todos esses fatores são benéficos à atividade agrícola, para além de sua importância ambiental.

Agricultura regenerativa no Brasil: a nascente de um futuro próspero

O Brasil está definitivamente avançando no que diz respeito a um agronegócio sustentável, pois já possui um histórico de práticas que podem ser soluções para os problemas ambientais. 

Esse é um setor multifuncional, com participação em diversos segmentos da economia, que promove produção de biomassa, energia renovável (biogás), biocombustível (biometano), entre outros. Assim, ações de agricultura regenerativa começam no campo e podem criar a cultura da sustentabilidade em outras áreas do setor.

Dentro disso, destacam-se as técnicas que visam à proteção do solo. Um solo fértil, protegido, com diversidade microbiológica, propriedades químicas equilibradas, estrutura física ideal para o desenvolvimento radicular e irrigado naturalmente por lençóis freáticos saudáveis é tudo que um cultivo precisa para ser produtivo.

Continue acompanhando os conteúdos da Syngenta Brasil, para ficar atualizado sobre os projetos e as iniciativas de agricultura regenerativa, entre outros temas.